segunda-feira, 31 de agosto de 2009

De frente com o poeta




Sabado passado queria me libertar... de que? Não sei. Apenas queria me libertar, divertir e esquecer de algumas coisas.

A minha fuga começou desde a hora que acordei e se concretizou ainda mais por volta das 13:00h. Bebi e bebi. Admito, sou fraca para a bebida, um pouco ja me embriaga, imagina a tarde e a noite toda provando desse mel...

No embalo de todo este dia, fui parar em uma casa de amigos de uma amiga.

Sempre tive curiosidade em estar frente a frente com um poeta, conversar com ele, saber seus ideias na intimidade, o mais nu possivel, seu comportamento, suas atitudes e saber o que o inspira a escrever, conhece-lo de uma forma mais ousada, que vai alem da situação formal da qual sempre imaginei.

Aconteceu!

Extasiada pelo alcool e pelo momento me sentei numa mesa grande, havia dois homens, um deles, um senhor, por volta de 60 anos que apresentava um livro de sua autoria para o outro.
Livro? Sem hesitar me intrometi na conversa e ja fui perguntando (talvez se eu estivesse em sã consciencia não teria feito isso, teria apenas observado) você escreve? é seu o livro? deixa eu ver? fala do que? que legal!

De inicio senti uma certa "resistencia" partindo dele comigo. Me recordo que ele dizia assim:

-Menina, você esta querendo ser simpática e agradável comigo, o que é que você quer? Pode ir pra la conversar de outras coisas.

Imagina?

Muito papo, muita conversa, até que eu comentei com ele que gostava de escrever, foi então que ganhei credibilidade, ele me disse: Escreve então, escreve qualquer coisa. Escrevi e apresentei pra ele, não sei se o que ele achou mas nosso papo continuou.

Falamos sobre amor, sentimentos, sensações, reações, versos, rimas, poetas. Por falar em poeta, a todo momento ele evoca a Pablo Neruda, Guimarães Rosa, Fernando Pessoa, num gesto de mãos para o céu , pedindo venham a mim, achei muito interessante!

Eu com o copo de cerveja sempre cheio e ele com o de cachaça, nas mesmas codições que o meu, sempre cheio! Cigarro, um atrás do outro (eu havia parado de fumar, parei, mas naquele dia, fumei, aliás eu, nesta fase de sanidade para o trabalho, buscando a independencia para produzir, acabo sendo um tanto hipócrita)Mas enfim...

Quando falamos sobre o Amor, ardeu meu peito. Disse pra ele que amar é ruim porque você esquece de si mesmo, se dedica para o outro, e Amar dói. Ele, com sua fala serena disse:
-Parabéns, meus parabéns, você sabe amar,quando se tem essa tristeza que você esta me dizendo, isso é Amor, só Ama quando se entristece, quando dói.
Apesar disso tudo ter ido contra minhas convicções, senti, aquele gelado bem no peito e entendi um pouco mais sobre o Amor. Agradeci a ele.

Na feira do livro deste ano, fui assistir a uma palestra com o pessoal do teatro (um dos palestrantes, era um hipócrita ridiculo, que só falou besteira ao meu ver) Conversando com meu querido Paulo, chegamos a concordar de um tal ser ribeirãopretano ridiculo, coincidentemente o ridículo que ele falava era o mesmo ridiculo que eu ja achava. Adorei! (risos)

Falamos também sobre o mestre, jornalista e muito querido (apesar do meu pouco contato) Gilson Filho, do seu trabalho, e de sua admirável capacidade de ser ele mesmo, independente de onde ele esteja.

Algo muito interessante que Paulo me disse foi da capacidade dos poetas em observarem os mais simples gestos e tranforma-los em poesia, ao meu ver, essa é uma capacidade sensacional, porem veio a minha duvida, ficar só nela não nos tira da realidade? Paulo disse que fugir dessa capacidade é puro Medo! São barreiras colocadas pela própria pessoa, ele me disse que sou medrosa, quanto a poesia, e eu tenho que concordar. Mas disse também que sou corajosa por ter sentado ali, me exposto e perguntado tudo aquilo para ele (concordo tambem, porem não estava em sã consciencia e se estivesse não sei se agiria da mesma forma, ou agiria movida pela sede de conhecimento, não cheguei num senso comum).
Entre conversas e observações, mais para o fim da noite Paulo me presenteou com seu livro "O Portal dos Desabitados", este reune seus desenhos e é recheado de poesia, muita, muita poesia. Palavras solitárias concluem, em dupla nos dão outros sentidos, na linha toda ganha-se outro , a pagina completa oferece uma visão mais ampla, e o livro todo deve ser a delicia da poesia completa com a visão do conhecimento no ser humano.
Confesso, ainda não terminei de ler, estou na pag. 40 e passei a olhar moradores de rua de outra forma.
Pedi para o Paulo autografar para mim, ele me respondeu:
- Meu nome ja esta ai, na segunda página. (foi a melhor resposta que eu poderia ter ganho)

Junto com o livro, havia um papel, que é uma reprodução, a contra capa do livro "Paulinho Pintor" (como Paulo é conhecido), da serie Nossos Artistas, este fala que Paulo Camargo é um dos maiores pintores brasileiros, o menino de rua, que morava em depósitos de lixo, se tornou grande artista. Estudou Goya, Da Vinci e Picasso e aprendeu que a beleza é fundamental. (Então pensei, estou na frente de um grande artista, Meu Deus)
Me senti muito maravilhada, orgulhosa, satisfeita, lisonjeada por ter conhecido um artista, um poeta, um ser humano como Paulo.
A minha retribuição por essas horas intensamente agradaveis, vai ser levar o nome deste humano/artista por onde eu for, e gritar a sua obra o mais alto que eu puder!
Contente,
Agradeço!

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